quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Colheitas de sol

É este transe magnético que me traz de volta à vida

É esta força dos arrozais que o vento acaricia

É aquela …longitude tranquila dos penhascos doridos

É aquele rasgo de saudade que a mala suporta

Lá longe onde a manhã anoitece o dia…

Lá longe onde a pátria perdeu vidas e ganhou paixões

Lá longe... onde as tempestades trazem o sol

Lá longe onde a madrugada conhece os meandros do escuro


Tão lindo olhar-te e ouvir-te do centro da terra

Tão bom aplaudir-te o sorriso milenar

Tão fácil saber que existes naqueles inventários

Tão duro...ver-te sofrer quando perdes o sono

Prometo levar-te ao teu sonho, mostrar-te o grande rio

Prometo saltear barcos nas nossas praias

Prometo ser mais fogo a arder sem queimar

Prometo no escuro ou na sorte… Nunca parar de te escutar…



.....

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pousio

Em tempos de fome
Digestões ligeiras
pássaro que não come
Não voa, não pia
Dormita nas beiras

Choro que destilas
calendas de amor
até às nonas supremas
são arcas centenas
transbordam de dor

Mas além ou ali
enveneno-me sempre
Fugas almejadas
unhas descalçadas
de palmas contentes


...

sábado, 11 de outubro de 2008

A vitória..e a procura de outras batalhas..{Vídeo}

A vitória..e a procura de outras batalhas...


Onde vais…?

Espera por mim…onde vais?
Ouço música vinda do céu…onde vais?
Para onde levas esse olhar…onde vais?
O som torna-se frenético..onde vais?
Por favor espera…por favor ajuda-me…por favor ensina-me a delirar…ensina-me a ser doente…ensina-me a viajar…não sei como é…sozinho não consigo..
Ensina-me a viver morto…acho que estou a morrer vivo…

...........



Uso nobre de paixões. Embora pareça um contrasenso enquadrar a palavra "uso" e "paixão" na mesma frase, o autor desta foto prova-nos o contrário.
Em 2007, o fotojornalista James Nachtwey foi galardoado com o TED Prize. James usou os 100 mil dólares que recebeu para correr o mundo a fotografar a luta contra uma nova mutação do bacilo da tuberculose que está a fazer milhares de vítimas, a XDR-TB (extremely drug-resistant tuberculosis). Paviagens notáveis.
Este é um dos registos...surgiram-me estas linhas...vergo-me perante estes mestres...é tão grande a espada como a batalha..espero que a espada seja ainda maior...
....Comovente

(Todas as outras podem vê-las em - http://www.xdrtb.org/ -)
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domingo, 14 de setembro de 2008

Hoje vou escrever tudo...


Quero deixar neste papel todo o meu mundo
tudo o que sou e sei
e tudo o que represento sem saber...

De mim, físico: quero despejar tudo
a lágrima do choro de há pouco e
o sangue que não sai de tanta ferida

Do que à minha volta respira, quero embrulhar tudo
o cheiro que trespassa o perfume
da noite de um Verão que não se conhece...

Do que vejo quero descrever tudo
desde o tecto sobranceiro aos sonhos
até às estrelas que lhes fazem cócegas...

Algo em mim se revolta,
tudo cá dentro protesta mas hoje...
vou deixar tudo neste papel...
antes que a vida se canse de me contar
histórias arcaicas de paixões...
até que o sono me puxe definitavemente
até que os olhos se fechem teimosamente
e mão me deixe de obedecer...

Hoje vou pensar o que nunca se escreveu
Hoje vou escrever o que nunca se disse
Hoje vou dizer o que nunca se fez...
e amanhã...
digo tudo outra vez...

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

A porta abre de novo...


Longo sal se derramou naquela cozinha

Gota fina, gota fria

Ou mais grossa, se a telefonia

Falasse de uns tantos corpos

Que a trincheira enterrou sozinha


Solidões de mãos postas

Foge a gente, fica o alento

Que a criança está a crescer!

Mas se o nosso mal vem de dentro

Que podemos nós fazer?


O dia chegou…e a porta agora és tu

Com essa cara que chora

Saudade em forma de carinho

Mãe ajuda-me!

Não consigo abraçá-lo sozinho!





(Fotografia de Helmuth Pirath - A foto retrata o regresso a casa, vindos dos campos russos, dos prisioneiros de guerra alemães, focando a atenção no rosto de uma criança que não via o pai desde que tinha um ano de idade)

A legenda da objectiva


























Criança que padeces…frivolidades

Simples sofrimentos, para ti verdades

Conto inacabado para ti é tragédia

Ris tanto do drama que choras comédia


Tenho inveja do que te escorre

Porque o riso em mim não morre

Nenhum lágrima é por mim perdida

Também queria chorar-te a vida


A minha no entanto é mais líquida

e controversa: não choro

Gargalhamos lamentos e no negro

Sorrimos em coro


Já fiz birras como tu

Mas chorar... já faz tempo

Para ti ainda é dor

Eu que não posso. Lamento



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(fotografia de Jill Greenberg)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Todo o meu corpo é letras...

O meu braço é uma palavra
da frase que é a perna
e o cabelo acrescenta vírgulas
porque o pé não soube pontuar
a oração escrita pela barriga

Bem dito! espirra o nariz....
Essa palavra já não se usa! o joelho diz...
uma quadra entoa o queixo...
Plágio - berra a mão - essa é do Aleixo!

O dedo em riste apontado à unha, irritado diz...
- Deixem o peito descansado, que já solta o seu verso branco
Com o qual as costas rimam entretanto...

O calcanhar cansado mas a sorrir, quer parar para reflectir.
Os gémeos acham importante a reflexão, facto que não agrada à mão:
- Calcanhar, põe-te a andar, só tens que pensar no chão!

Enquanto isto, o ombro lê uma história de encantar enquanto acaricia o pescoço...
- Ai que dores - gritam os pés - tanto que me dói este osso!
As orelhas, embora bem longe, ouvem todo aquele lamento e fazem-no ressoar cá dentro...
A cabeça concorda e divulga a lembrança...pois é, o corpo descansa...

A mão discorda mas os sorrisos são gerais.
- Amanhã já se avança - ordenam os lábios
Todo o meu corpo é letras e nada mais...


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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Sincera Ausência

Cansei de pisar fúteis terrenos
Pensei em calcar locais mais serenos
A fuga já faz frívolos caminhos
não os encontrei e fi-los sozinhos

Sinto...pois sinto, crepitar na luz
Ardi-me, sujei-me no sítio onde a pûs
Queimei-me, cheirei-me e chorei bem alto
Olhei-me e não vi o ser que cá falto

Libertei-me de amarras, cartas e mensagens
Abracei-me e, louco, fui em viagens
Não estando, nem sendo o não que diz sim
Encontro bem longe o perto de mim

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quinta-feira, 20 de março de 2008

O sol através da janela...

Vi agora uma miragem
uma ilusão conhecida
faz tempo que a não via
alguém lhe chamou memória
e eu quase que ensandecia

Há muito foi mais que minha
ou há pouco não sei bem
pareceu-me que a conhecia
em tempos fui eu e ela
mas ainda assim não sorria

Reparo agora noutra cara
outra cor bem mais contente
era eu que a punha assim?
eu também era diferente
se calhar era ela a mim

Se correr foi solução
o meu padecer valeu
custou...conheci o chão
mas se serviu para a conhecer
não escureci em vão

Senti...se calhar fiz mal
devia ter só beijado
aquela aurora bem disposta
posso dizer que cresci
Não! idade não é resposta

Ó campos para onde caminho
fogosos delírios meus
acordai-me e dai-me esperança
e a luz e a vontade
de ser simples em criança

A ti...ficaste cá
mas ainda não percebo
se a visão que tenho é má
porque não estou a sonhar
em vez de sentir o que escrevo

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quinta-feira, 13 de março de 2008

Cheguei tarde?

Pura ou não...abraças-me
E hoje quando pensei
percebi que para mim és
algo que desconheces
no momento em que te olhei
...Não chega

Mas o cristalino pedaço do gesto
fez-me entrar na tua mansão
de luz ténue hipnotizante
desassossegada toda ela
mas muito, muito flutuante
...depois voei

O que a teu lado são letras
canções perdidas e pretas
de tanto arder na voz rouca
Se em mim vêem desvario
tu não és menos que louca
...mas foges

E não descanso na estrada
o hábito com que passo frio
na embriaguez vã que não bebo
da tua demência me rio
Sou doente...agora eu percebo
...e a cura

Não cabe já na bagagem
a solução da insanidade
partilhamos o tecto de breu
e na impensável viagem
mergulhas tu primeiro, ou eu?

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Abraço distante...

Não te olhes. apenas caminha.
Porque se assim for, esqueces-te que és tão bela, onde ninguém ainda viu. Olha à tua volta e ama-te. Grita e ouve bem o teu eco, escreve letras soltas e lê-as bem alto.

Eles não merecem a tua alegria
a forma bonita como o teu coração ri
Chora para fora e
sorri para ti...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A noite que nos percebe...

É madrugada...e a escuridão do que antes não vias, tornou tudo mais difícil. Por mais que tentes, nada do que vais ver irá ser bem interpretado pelo entendimento. Foges e fazes por mudar a tua falta de visão, mas a única coisa que consegues é estar mais longe e mais só. Já viste que não conseguias resolver o problema; soluções mais ou menos desvairadas de razão te passaram pela cabeça. Abraças-te nessa miscelânea de cegueira e más visões, dás um beijo de boa noite na tua própria face e calmamente adormeces.....

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Os amanhãs de ontem...

No silêncio que incomoda,
na razão imensa e azeda,
apartamos mitos que nunca ouvimos...

No insustentável vazio,
na voz que fala bem alto,
engolimos canções que o vento entoa...

No canto lá longe,
na sede de vê-la passar,
somos passeio escuro na noite ausente...

Na chuva que queremos,
no sopro que esperamos,
elevamos olhar no encantamento...

Porque no vôo eterno,
na estrada sempre nossa,
não herdamos baús de memórias
vamos esvaziá-los agora,
e na tempestade que a árvore abriga,
queimamo-los com este momento!

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Corpo estranho...

Poema que me acordas durante o sono, para me contares aquela história que te inquietou...
Donzela, beleza austera e ao mesmo tempo sisuda que me apoquentas e me revolteias os lençóis que me cobrem da luz do dia...
Suplício eterno do encantamento, chave mestra do que me assola...melodia intensa, que me resplandece a face...
Contos sussurados entremeados com beijos...múrmurios que me arrepiam longas horas...
Cais onde descanso o barco esperando águas calmas...
Estou num sonho e és tu quem a almofada me ajeita...

De onde vens tão perfeita?
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão urbano

Desarrumado como a tua cabeça
Roupa que desliza no chão
Cama imunda

Estás a afogar-te
Em cada copo que afundas
Lágrimas esgotadas
O fato está primeiro
Coração de lama
O perfume disfarça o cheiro

Espelho! És tu?
Não se nota a semelhança
Já te perturba a tua presença
Até onde a vista alcança
Não és tu! Aí é que está a diferença...

A água não lava saudades
O pente não proporciona regressos
Amores são o teu fumo
Dores a tua bebida
Já nem sabes o que são excessos

Quando se olha para ti
Não há tranquilidade...não há calma...
Impõe-se uma questão:
Quem disse que todo o ser tinha alma?
Quem disse que não se pode sobreviver sem coração?

Mas! É teu o mundo inteiro...
Bom negócio! E ainda te sobrou dinheiro...

Nem tudo tem um preço...

...Durmam gente cinzenta

Abaluartados funerais de ideias
Epígonas de barriga cheia
Pedras que se desfazem na mão
e aguarelas que pintam o chão
Cantos pífios de rouxinóis
Amorfas falas sob os lençóis
Arqueólogos de antigas poeiras
Anti-oníricas bebedeiras

Mas quando a penumbra vem...
Serena
O escuro não vos seduz
Sois expulsos pois não mereceis
Nem do dia... a pena
Nem da noite... a luz

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