segunda-feira, 23 de junho de 2008

A porta abre de novo...


Longo sal se derramou naquela cozinha

Gota fina, gota fria

Ou mais grossa, se a telefonia

Falasse de uns tantos corpos

Que a trincheira enterrou sozinha


Solidões de mãos postas

Foge a gente, fica o alento

Que a criança está a crescer!

Mas se o nosso mal vem de dentro

Que podemos nós fazer?


O dia chegou…e a porta agora és tu

Com essa cara que chora

Saudade em forma de carinho

Mãe ajuda-me!

Não consigo abraçá-lo sozinho!





(Fotografia de Helmuth Pirath - A foto retrata o regresso a casa, vindos dos campos russos, dos prisioneiros de guerra alemães, focando a atenção no rosto de uma criança que não via o pai desde que tinha um ano de idade)

A legenda da objectiva


























Criança que padeces…frivolidades

Simples sofrimentos, para ti verdades

Conto inacabado para ti é tragédia

Ris tanto do drama que choras comédia


Tenho inveja do que te escorre

Porque o riso em mim não morre

Nenhum lágrima é por mim perdida

Também queria chorar-te a vida


A minha no entanto é mais líquida

e controversa: não choro

Gargalhamos lamentos e no negro

Sorrimos em coro


Já fiz birras como tu

Mas chorar... já faz tempo

Para ti ainda é dor

Eu que não posso. Lamento



...

(fotografia de Jill Greenberg)