quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Arcos de papel e flechas de tinta

As folhas secas me olham
E dizem: Se fosses meu
Fito-as muito abismado
Afinal eu sou passado
O medo já se venceu
de usar letras e línguas
e dizer onde não vivi
Agora olho para ti
respondo-te: ai que saudades
que memórias desse tempo
e a mais louca das verdades
é pensar que foi vivido
e sonhado ao mesmo tempo

Porque voltei?
pergunto-me sem nada ouvir
E na nossa miscelânea
julgo apenas caminhar
sobre o que estou a urdir
ouço o barulho dos grilos
corro! e num abraço
percebo que os que mais viajam
vagueiam por lá e dizem
é a primeira vez que aqui passo

Alimentam-se de Lua
Nova! mas tão crescida
e a força que a noite possua
deixa pavios acesos
e a vela derretida
...



segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O pulsar atrás das grades

Ponteiros façam favor
passem e digam adeus
percebam que no labor
na árdua luta e na dor
não gosto de vos dizer meus

Já tentei incentivar-vos
a deixarem-me só comigo
mas ao fim de toda a luta
perguntam-me por vós e acho
que sozinho não consigo

E continuam correndo
fugindo para o vazio
Nós aqui vamos crescendo
com os olhos vamos lendo
o vosso olhar tão frio

Esconderam-se e agora?
Nem quero saber mais!
viajamos sem ir embora
e num balcão partilhamos
o perfume dos giestais

Outros que uivam à Lua
quero que nos chamem putos
de ti já nem sei o nome
mas pensando na cadência
sois incrivelmente brutos

Já só a menina Aurora
nos faz voltar a ter medo
mas até ela chegar
em ti não vou mais pensar
Tem calma! Ainda é CEDO!


domingo, 4 de novembro de 2007

Clausura encantada

Há sítios onde encontramos pedaços de ouro, por entre a miséria e onde descobrimos a verdadeira riqueza quando só cinza e nada nos salta aos olhos.
Nessas paviagens, as expectativas são ínfimas e os sorrisos ficam por inventar; não levamos armas pois temos a certeza que as balas se escusam e as malas vão cheias de tudo o que de vazio o vento nos traz.
E na chegada, sorrimos imediatamente, acto imprevisível e logo desvalorizado. Cepticamente acreditamos que é único o momento, aliás foi...
De súbito, prendem-nos, agarram-nos num abraço, abrimos os olhos e cheiramos vida por trás do presumível deserto. Já lamentamos a falta de armas e a brisa nocturna traz com ela pedidos de agasalho.
O momento acontece.
Num palheiro, encontramos espadas, numa rua o mar, e na palma da mão um mapa ilustrado.
Largamos lamentos e sentidos menores, mergulhamos na superfície rugosa e batemos calcanhares para apanharmos aquilo que julgávamos no bolso.