quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Os amanhãs de ontem...

No silêncio que incomoda,
na razão imensa e azeda,
apartamos mitos que nunca ouvimos...

No insustentável vazio,
na voz que fala bem alto,
engolimos canções que o vento entoa...

No canto lá longe,
na sede de vê-la passar,
somos passeio escuro na noite ausente...

Na chuva que queremos,
no sopro que esperamos,
elevamos olhar no encantamento...

Porque no vôo eterno,
na estrada sempre nossa,
não herdamos baús de memórias
vamos esvaziá-los agora,
e na tempestade que a árvore abriga,
queimamo-los com este momento!

...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Corpo estranho...

Poema que me acordas durante o sono, para me contares aquela história que te inquietou...
Donzela, beleza austera e ao mesmo tempo sisuda que me apoquentas e me revolteias os lençóis que me cobrem da luz do dia...
Suplício eterno do encantamento, chave mestra do que me assola...melodia intensa, que me resplandece a face...
Contos sussurados entremeados com beijos...múrmurios que me arrepiam longas horas...
Cais onde descanso o barco esperando águas calmas...
Estou num sonho e és tu quem a almofada me ajeita...

De onde vens tão perfeita?
...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Balcão urbano

Desarrumado como a tua cabeça
Roupa que desliza no chão
Cama imunda

Estás a afogar-te
Em cada copo que afundas
Lágrimas esgotadas
O fato está primeiro
Coração de lama
O perfume disfarça o cheiro

Espelho! És tu?
Não se nota a semelhança
Já te perturba a tua presença
Até onde a vista alcança
Não és tu! Aí é que está a diferença...

A água não lava saudades
O pente não proporciona regressos
Amores são o teu fumo
Dores a tua bebida
Já nem sabes o que são excessos

Quando se olha para ti
Não há tranquilidade...não há calma...
Impõe-se uma questão:
Quem disse que todo o ser tinha alma?
Quem disse que não se pode sobreviver sem coração?

Mas! É teu o mundo inteiro...
Bom negócio! E ainda te sobrou dinheiro...

Nem tudo tem um preço...

...Durmam gente cinzenta

Abaluartados funerais de ideias
Epígonas de barriga cheia
Pedras que se desfazem na mão
e aguarelas que pintam o chão
Cantos pífios de rouxinóis
Amorfas falas sob os lençóis
Arqueólogos de antigas poeiras
Anti-oníricas bebedeiras

Mas quando a penumbra vem...
Serena
O escuro não vos seduz
Sois expulsos pois não mereceis
Nem do dia... a pena
Nem da noite... a luz

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